A modernização da agropecuária tem redefinido o perfil dos profissionais do setor, aumentando a necessidade de mão de obra qualificada e reduzindo as oportunidades para trabalhadores com menor nível de instrução. Esse movimento resultou em um aumento de 7,5% na renda média do setor nos últimos quatro anos, segundo Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro.
Embora a agropecuária ainda apresente a menor média salarial entre os setores econômicos do Brasil, o cenário no Centro-Oeste é diferente: nessa região, os ganhos no campo já superam os da indústria. No entanto, mesmo com essa valorização, o aumento da remuneração não acompanhou a inflação acumulada no período, que atingiu 27,7%, conforme dados do IPCA-IBGE.
Baixos salários e condições de trabalho impulsionam êxodo do campo
A remuneração abaixo da média de outros setores tem levado muitos trabalhadores da agropecuária a deixarem o campo em busca de oportunidades melhores. Segundo Gabriel Bezerra, presidente da CONTAR (Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais), além dos baixos salários, as condições de trabalho muitas vezes precárias contribuem para essa migração.
Bezerra aponta que, mesmo em segmentos com alta demanda, como a fruticultura, há dificuldades para contratar mão de obra, pois muitos trabalhadores preferem alternativas como aplicativos de transporte. Ele também ressalta que a reforma trabalhista agravou o cenário ao retirar a remuneração pelo tempo de deslocamento dos trabalhadores rurais, tornando as condições ainda menos atrativas. "Nas regiões rurais, o tempo de deslocamento até o trabalho é mais longo. Sem a remuneração pelas horas de viagem, muitos optam por oportunidades no meio urbano", explica.
Ao mesmo tempo, outros setores da economia têm se tornado mais atrativos, não apenas pela remuneração. De acordo com Sabrina Bittencourt, da empresa de recrutamento Wyser, desde a pandemia, tem sido mais desafiador realocar profissionais qualificados dos grandes centros para áreas do interior, especialmente em estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Desafios na retenção de trabalhadores no campo
Mesmo após a contratação, a taxa de evasão continua alta. “No curto prazo, o trabalhador permanece, mas, com o tempo, sente falta da família e acaba deixando o emprego”, explica Sabrina
Leandro Trindade, consultor de RH especializado em psicologia do trabalho para o setor agropecuário, destaca que a rotatividade no campo ainda é preocupante. “Na suinocultura, a taxa gira em torno de 40%, quando o ideal seria, no máximo, 15%”, aponta.
Segundo ele, outros setores da economia têm investido não apenas em melhores salários, mas também em fatores que aumentam a permanência dos funcionários, como ambiente de trabalho mais acolhedor, oportunidades de crescimento na empresa e um senso de propósito mais claro.
As informações são do Globo Rural, adaptadas pela equipe MilkPoint